Do
ponto de vista biológico a diversidade surge no processo de evolução
dos seres vivos em consequência da necessidade de adaptação do
sujeito ao meio. Sabemos hoje que a diversidade é condição
imprescindível à manutenção da vida no planeta. No caso da
espécie humana, essa diversidade se manifesta tanto biológica
quanto culturalmente. As culturas se constroem e se diversificam na
interação com o meio em que vivem e no contato com outras culturas.
Cada ser humano traz em si um potencial único que se manifesta no
processo de individuação. Porém, esse processo é consequência da
interação do indivíduo com o meio no qual está inserido e com sua
identificação com os valores do grupo ao qual pertence.
Hoje,
as fronteiras entre as diversas culturas já não têm limites tão
precisos. Mas o desenrolar histórico desse encontro de culturas
gerou um momento em que existe uma forte tendência a uma
homogeneização cultural dentro dos padrões impostos pelas demandas
de consumo. Essas demandas não refletem necessidades reais, mas
antes as cria com o fim de manter a economia em movimento. Se por um
lado existe um forte apelo ao individualismo, por outro se restringe
cada vez mais os espaços de construção/exercício da
individualidade. A expansão dos meios de comunicação facilitou o
acesso à informação e a possibilidade de expressão. Mas só têm
um amplo espaço de expressão (na grande mídia
produtora/detentora/divulgadora das verdades) as informações que se
conformam a um modelo de discurso. Muitas vezes é essa informação
distorcida que tomamos por base em nossas discussões.
Na sala de aula
DIFERENÇA (gr.
ôioupopá; lat. Differentia-, in. Difference, fr. Différence, ai.
Differenz; it. Differenzà).
Determinação da
alteridade. A alteridade não implica, em si, nenhuma determinação;
p. ex., "a é outra coisa que não b". A D. implica uma
determinação: a é diferente de b na cor ou na forma, etc. Isso
significa: as coisas só podem diferir se têm em comum a coisa em
que diferem: p. ex., a cor, a configuração, a forma, etc
(Dicionário de Filosofia Abagnano)
Igualdade,
desigualdade, diferenças, semelhanças... palavras que podem ter
significados diversos quando refletimos e as aplicamos às nossas
experiências de vida, palavras que podem alargar nossa concepção
de mundo ou restringi-la quando a única possibilidade que temos é
submetermo-nos à compreensão que delas tem um outro.
Ainda que sejamos
dotados dos mesmos sentidos para apreender a realidade, o "produto
final" de nossas percepções tem um forte componente subjetivo.
Se a princípio temos a possibilidade de experimentar entre as
diversas formas de vivenciar o real, durante o processo educativo
aprendemos a nos adequar a uma determinada forma de ver o
mundo. Aparentemente, essa é uma coisa que Jacques Prévert não
aprendeu:
Dia de festa
(Jacques Prévert)
Onde vai você meu
menino com essas flores
Debaixo dessa chuva
Está chovendo está
molhando
Hoje é aniversário
da rã
E a rã
É minha amiga
Ora menino
Bicho não faz
aniversário
Ainda mais um
batráquio
Decididamente se não
o colocamos nos eixos
Esse menino ainda
vira um bom malandro
Por causa dele ainda
vamos comer
O pão que o diabo
amassou
Vive tendo essas
idéias
E ninguém ralha com
ele
Esse menino só faz
o que lhe dá na telha
E nós queremos que
faça o que dá na nossa
Oh meu pai!
Oh minha mãe!
Oh meu tio-avô
Sebastião!
Não é com minha
cabeça
Que ouço o coração
bater
Hoje é sim o
aniversário
Por que não podem
entender?
Oh! não me puxem
pelo ombro
Não me peguem pelo
braço
Quantas vezes a rã
me fez rir
E toda a noite ela
canta para mim
Mas aí eles fecham
a porta
Vêm falar-me
suavemente
Eu grito que é dia
de festa
Mas ninguém ali me
entende.